Brincadeiras populares: bolinha de gude
Uma das brincadeiras mais populares, no tempo que as ruas não eram pavimentadas em Itajaí, era a bolinha de gude. Ela era comprada a preço acessível pelas crianças de todas as classes sociais e ainda se tinha a alternativa de confeccionar bolinhas com barro cozido. Também existiam as bolinhas mais caras e raras, chamadas de carambolas. Elas eram importadas. A bolinha de gude recebia nomes populares como: bolinha de vidro, tilica, clica, quica. Os principais formatos dos jogos com a bolinha de gude eram: boca, triângulo, nica (nicada ou corridinha) e roda.
Bóca – a brincadeira da Bóca com a bolinha de gude consistia em fazer um pequeno buraco (bóca), a partir dela dar cinco a dez passos para trás – essa distância era combinada entre os participantes, para fazer um risco. Todos os participantes do jogo tinham de ficar atrás do risco, de frente para a Bóca. Por ordem de sorteio um a um dos participantes jogavam a sua bolinha em direção à Bóca. Depois que todos jogassem a sua bolinha, por ordem de quem jogou a bolinha mais perto da Bóca, era dada a oportunidade dele jogar a sua bolinha dentro da Bóca. Se a bolinha entrasse e ficasse dentro da Bóca ele tinha a oportunidade de tentar acertar qualquer das bolinhas fora da boca pertencente aos demais competidores. Se acertasse a bolinha, ele ficava com a bolinha do concorrente.
Triângulo – a brincadeira do triângulo consistia em riscar um triângulo no chão, tendo cada competidor a obrigação de ‘casar’ (colocar) uma bolinha dentro da figura. Depois, de uma distância combinada entre os participantes cada um tentava lançar sua bolinha o mais perto possível do triângulo. Quem chegasse mais perto tinha a oportunidade de ser o primeiro a tentar bater com sua bolinha em uma das bolinhas dentro do triângulo. Se a bolinha que estava dentro do triângulo saísse para fora o jogador ganhava aquela bolinha.
Nica – a brincadeira da nica consistia em dois participantes jogarem suas bolinhas à frente. O mais atrasado tentava bater com sua bolinha na bolinha do adversário. Se acertasse ele ganhava a bolinha. Desta forma, o jogador tentava empreender o máximo de força possível quando atirava sua bolinha em direção à bolinha do adversário, para não ficar muito próximo dela no caso de errar o alvo. Por essa característica do jogo, a brincadeira era feita sempre em locais mais amplos e abertos. Os combatentes podiam andar uma boa distância antes de um acertar o alvo. Não por acaso, quando dois amigos iam para a escola ou dois irmãos iam na venda da esquina, podiam fazer o percurso de forma prazerosa jogando Nica estrada afora.
Roda – o grupo de jogadores colocavam suas bolinhas dentro de uma grande roda traçada no piso de terra batido da rua. Por ordem de sorteio o jogador escolhido tentava tirar para fora da roda a bolinha de um concorrente. Se conseguisse alcançar esse objetivo ficava com a bolinha que ficou fora da roda.
Obs: vale ressaltar que as regras desses jogos com bolinha de gude não eram padronizadas. Os grupos podiam fazer as regras que bem entendessem, desde que fosse de comum acordo. No livro de jogos e passatempos de Nina Caro, de 1947, por exemplo, temos quatro variantes do jogo da Roda. O jogo da Bóca recebe o nome de Emboque, enquanto o jogo da Roda recebe o nome de jogo de Bolinhas em Círculo.
Texto: Magru Floriano.
FONTES:
1 – PIAZZA, Walter F. Folclore de Brusque. Brusque: SAB, 1960.
2 – CARO, Nica. Jogos, passatempos e habilidades. Porto Alegre: Globo, 1947.