Brincadeiras populares: soltar pandorga
Uma atividade muito praticada pelas crianças de Itajaí sempre foi a brincadeira de confeccionar e soltar pandorga. No tempo antigo (até 1970) as próprias crianças confeccionavam as suas pandorgas em casa. Elas iam até a venda da esquina onde compravam linha e papel de seda, conseguindo bambu na beira do Rio Pequeno (Itajaí-Mirim). A primeira aventura era sair de casa para ir até o Rio Pequeno pegar o bambu tendo um facão enferrujado em mãos. Geralmente se ia em turma até a beira do rio. A segunda aventura era dominar o corte do bambu para fazer as varetas finas. Também era comum desviar uma faca afiada da cozinha, sem que a mãe percebesse pela falta da mesma. Um trabalho artesanal e perigoso. Não era raro uma criança se cortar com facão ou faca. Depois vinha a confecção da cola. Era feita com água e araruta aquecida no fogão a lenha em uma panela velha ou lata usada. Quando não se tinha disponível a araruta se fazia cola com arroz bem cozido, resto do almoço. O problema é que o arroz deixava a pandorga um pouco mais pesada e não grudava com a mesma eficiência da cola de araruta. Naquele tempo não existia ainda a perigosa linha cerol e o único problema mais sério que se tinha era quando a pandorga enleava na fiação elétrica da rede pública de energia e ameaçava dar curto circuito. Muitas pandorgas ganhavam decoração criativa, com a figura geométrica do seu corpo sendo composto por papel de seda de cores diferenciadas. Na confecção da pandorga o formato do bigode (cabresto) era fundamental e demandava um certo conhecimento técnico. A pandorga atualmente também recebe os nomes de: arraia, raia, pipa, papagaio.
Tipos de pandorga
A criançada era muito criativa na hora de confeccionar a sua própria pandorga, utilizando as mais diversas formas geométricas e tamanhos. A pandorga mais popular tinha o corpo com o formato de um retângulo, e a parte da frente em forma de triângulo. Os nomes também variavam de conformidade com a figura geométrica utilizada para confeccionar o seu corpo. A Pandorga era o modelo tradicional em formato de um pentágono e formas similares. Depois, tinha a Estrela – com um formato mais próximo de um heptágono; o Papagaio ou Raia – com o formato de triângulo duplo, ou quadrado invertido; Sapinho – feita de folha de caderno e parte de saco de pão, sem estrutura de bambu. Depois, foram aparecendo também pandorgas compostas por estruturas mais complexas, em forma de caixas e contendo desenhos. Mas o custo era muito alto e demandava um certo profissionalismo na sua confecção.
Enfeites e apetrechos
Uma sofisticação que se fazia na confecção da pandorga era colar papéis de seda de cores diferentes para dar um colorido vistoso. Também se colocava as bandeirolas – no centro e na vara arcada da frente – com papéis coloridos. A rabiola (rabo ou cola) usualmente era feita de trapos de pano. As mais sofisticadas eram feitas com papel de seda em formato de corrente. Também eram feitos telegramas – um pequeno pedaço de papel com um furo no meio que era colocado na linha para o vento levar até a pandorga que estava no ar. Muitas vezes os telegramas pesavam muito, dificultando a manutenção da pandorga no ar.
Texto: Magru Floriano.