Brincadeiras populares: de roda ou ciranda
Na cultura popular sempre foi muito difundida a prática conhecida como brincadeira de roda ou ciranda. Ela consiste em reunir um grupo de crianças para repetir determinados movimentos enquanto cantam versinhos clássicos da cultura popular. Algumas dessas ‘cantigas de roda’ habitam o cotidiano das crianças brasileiras a século. Essas cantigas eram mais praticadas pelas meninas, sendo que os meninos maiores costumavam evitar participar delas para não ficarem com fama de afeminados. Havia uma distribuição do território da rua para as brincadeiras de grupo. Enquanto as meninas brincavam com as cantigas de roda, os meninos brincavam de ‘polícia e ladrão’, ‘esconde-esconde’, ‘bolinha de gude’ e palanca. Geralmente nas cantigas de roda os participantes faziam muitos gestos e movimentos que estavam de acordo com as palavras cantadas em coro. Um dos movimentos mais usuais era inverter o sentido do movimento do giro da roda, hora para a esquerda, hora para a direita, de fora para dentro e de dentro para fora – aumentando e diminuindo o tamanho da roda.
Ciranda – as meninas faziam uma roda de mãos dadas e repetiam inúmeras vezes as quadrinhas, invertendo a direção do giro da roda.
Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandá
Uma volta, meia volta, volta e meia vamos dá.
O anel que tu me deste
Era vidro e se quebrou
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou.
O Cravo – em um primeiro momento fazem o giro da roda, depois alternam com bater as mãos e os pés … e assim sucessivamente.
O cravo ficou doente
A rosa foi visita
O cravo teve um desmaio
A rosa pôs-se a chorà.
Palma, palma, palma. [batem palma]
Pé, pé, pé. [batem o pé]
Róda, róda, róda, [giro da roda novamente]
Caranguejo peixe é.
Onde está a Margarida
É uma brincadeira desenvolvida para as meninas. Elas formam uma roda pegando na ponta da saia uma da outra. Uma menina fica fora da roda e na medida que vai cantando vai tirando uma outra menina da roda para lhe fazer companhia até que fique apenas uma menina da roda inicial.
Onde está a Margarida?
Olê! Olê! Olá!
Onde está a Margarida?
Olê! Seus cavaleiros!
Terezinha de Jesus
Nesta cantoria as meninas fazem uma roda dando as mãos, girando e cantando:
Terezinha de Jesus
Deu a queda e foi ao chão
Acudiu três cavaleiros
Todos três chapéu na mão
O primeiro foi seu pai
O segundo seu irmão
O terceiro foi aquêle
Que a Teresa deu a mão…
Nesta rua
Nesta rua, nesta rua
Tem um bosque,
Que se chama, que se chama solidão
Dentro dele, dentro dele mora um anjo
Que roubou, que roubou meu coração
S’eu roubei, s’eu roubei teu coração
Tu também, tu também roubaste o meu
S’eu roubei, s’eu roubei teu coração
É porque, é porque te quero bem.
Se essa rua, se essa rua
Fosse minha
Eu mandava, eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas, com pedrinhas
De diamante
Só pra ver, só pra ver
Meu bem passar.
A canoa virou – nesta cantiga todos os participantes ficavam de mãos dadas, com o rosto virado para o lado de dentro da roda. Na medida em que os nomes eram citados pelo grupo, um a um ia se virando de costas, mas continuando na roda. Quando todos estavam virados no sentido contrário, iniciava um movimento de retorno à posição inicial respeitando a ordem da cantoria.
A canoa virou
Foi deixada virar
Foi por causa de ‘fulano’ (nome da criança a virar)
Que não sabia remar.
Se u fosse peixinho
E soubesse nadar
Eu tirava ‘fulano’ (nome da criança a virar)
Lá do fundo do mar.
Escravos de Jó – nesta cantiga se usava também bater as mãos e os pés de forma alternada com o giro da roda.
Escravos de Jó
Jogavam o cachangá
Tira, bota …
Deixa o zambelê ficá
Guerreiros com guerreiros
Fazem zigue-zigue-zá
Guerreiros com guerreiros
Fazem zigue-zigue-zá …
Texto: Magru Floriano.
FONTES:
1 – PIAZZA, Walter F. Folclore de Brusque. Brusque: SAB, 1960.
2 – CARO, Nica. Jogos, passatempos e habilidades. Porto Alegre: Globo, 1947.