Casa de madeira
No tempo antigo (antes de 1970) todas as casas da classe média para baixo eram feitas com madeira. Os mais pobres usavam madeira menos valorizadas no mercado e pintavam a casa com óleo queimado de reuso, para evitar o cupim e a ação da maresia – vento marinho úmido e com sal. No início a casa de madeira não tinha banheiro interno, sendo que a patente era no sistema de ‘casinha’ nos fundos do quintal. A fresta deixada entre uma tábua e outra era preenchida com ripas de madeira. Mesmo assim, com a ação do tempo (sol, chuva, frio e calor) sempre abria umas falhas e era comum ver a luminosidade externa entrar nos cômodos. O assoalho da casa era feito com madeira mais dura, portanto, mais cara. Canela e peroba eram muito utilizadas nos assoalhos. Ele era lixado com palha de aço, passado cera e polido pelo menos uma vez por mês. Para isso era utilizado o esfregão (pau-de-ferro) ou a enceradeira. Antes do surgimento da enceradeira elétrica era comum se utilizar uma peça de ferro maciço revestido com pano de lã e colocar uma criança em cima para dar mais aderência e eficiência. Para as crianças pequenas não deixava de ser uma ação muito divertida, principalmente em dias de chuva. Algumas casas possuíam sótão, o andar superior onde ficavam os quartos das crianças e o depósito de mantimentos, etc. O modelo de casa de madeira mais vistoso era conhecido como casa de mansarda. O telhado tinha duas águas (lados, quebras, quedas) e elas também eram quebradas, fazendo com que o espaço fosse melhor aproveitado, sendo utilizado como sótão. Geralmente ele tinha janelas frontal e traseira. Algumas, mais sofisticadas, também tinham janelas laterais. As casas mais modestas tinham apenas uma água, mas a maioria tinha telhado de duas águas.
Mudando de lugar
Um fato interessante com relação às casas de madeira era que elas podiam mudar de lugar. A casa de madeira era suspensa por macacos possantes, colocada em cima de toras planas, sujas com graxa, sebo de boi e banha de porco – para deslizar. Assim ela podia ser empurrada pela base e levada alguns metros para dentro do próprio terreno. As vezes essa operação era necessária para fazer o recuo de uma casa que estava fora do alinhamento da rua, segundo padrões da prefeitura. O proprietário também podia colocar a casa para o lado ou para trás, dentro do seu próprio terreno, para ganhar espaço na parte frontal do terreno e construir uma nova casa ou abrir seu comércio, etc. Além de ser empurrada alguns metros a casa também podia ser transportada para um lugar distante. Isso ocorria com o uso dos tratores. Itajaí possuía uma frota formidável de tratores, os populares ‘grilos’, que transportavam tábuas de madeira até o cais do Porto de Itajaí. No transporte das casas eram tirados os móveis e o telhado. Todo o trabalho de transporte da casa era facilitado porque elas não eram fixadas diretamente no solo do terreno. Todas elas eram suspensas em sapatas. Isso evitava alagamentos e, também, abria uma área coberta para depósito de objetos de pouco uso cotidiano, como ferramentas de jardim e lavoura, restos de madeira. Também serviam como área de brincadeiras para as crianças. A casa era suspensa por macacos grandes e colocada em sapatas feitas com pedaços grossos de madeira rígida. Tinha de ficar um pouco acima da altura da carreta. Quando a casa estava suspensa nas sapatas de madeira, colocava-se a carreta na parte de baixo e vagarosamente ia descendo a casa, até ela ficar totalmente apoiada na base da carreta do trator. No tempo antigo era comum encontrar casa andando pelas ruas da cidade no período noturno.
Tudo fora de casa
A pia para lavar a louça e o tanque de lavar roupa também ficavam no lado de fora, como tudo que demandava o uso de água. A pia de lavar louça se chamava popularmente de ‘vaza’ e ficava num suporte colocado no lado de fora da janela da cozinha. A água utilizada era jogada no quintal. A água potável era fornecida por um poço artesiano. Geralmente as casas continham potes e filtros, onde era armazenada uma certa quantia de água para uso doméstico. O fogão a lenha também podia ficar em um puxadinho afastado da casa chamado de rancho. Muitas casas, contudo, podiam ter uma meia-água grudada á própria casa para cozinha. Nas casas maiores, como era o caso das mansardas, a cozinha ocupava boa parte do primeiro piso. Neste ainda era possível contar com o quarto do casal e até uma varanda traseira e outra frontal. A maioria das casas possuía varandas porque era prática cultura de antigamente as pessoas ficarem à varanda conversando com os vizinhos, fazendo a crônica do dia nos finais de tarde.
tecnologia
Com o passar dos tempos, principalmente com a implantação das redes de energia elétrica e de água potável, cada atividade doméstica foi recebendo um equipamento que substituía o trabalho manual. A tecnologia foi suprindo as necessidades, trazendo mais conforto às famílias. Assim, foram surgindo, fogão a gás, liquidificador, geladeira, enceradeira, batedeira de bolo, panela de pressão, máquina de costura. O rádio chegou às casas de muitas famílias até mesmo antes do fogão a gás ou a enceradeira. Depois vieram aparelhos com tecnologias mais complexas, como é o caso do telefone e da televisão. Por último o automóvel.
Extinção
A casa de madeira está praticamente em extinção no Município de Itajaí por conta da falta de madeira de qualidade no mercado. Fica cada vez mais difícil encontrar madeira de qualidade a preço que compense a concorrência com os materiais de construção da alvenaria. Recentemente, devido aos grandes reflorestamentos de pinus e eucalipto para as indústrias noveleira e papeleira, surgiu com destaque a construção de casas populares com essas madeiras moles. Contudo, para proteger do cupim, elas são tratadas com químicas fortes, tornando o seu uso pouco recomendável para a saúde humana. Por isso esse tipo de madeira é mais usado para estruturas externas, como é o caso de ranchos e deques. Por outro lado, as casas de madeira antigas, tomadas pelo cupim e sem condições de reforma – pelo menos a preço acessível – fazem com que elas simplesmente sejam desmanchadas para dar lugar a novas casas de alvenaria. Nas áreas mais valorizadas pelo setor imobiliário, essas casas são desmanchadas para dar lugar aos edifícios. A tendência é o desmanche da casa de madeira e não sua preservação e manutenção.
TEXTO: Magru Floriano.
FONTE: CORRÊA, Isaque de Borba. Poranduba papa-siri. Camboriú: ed. autor, 2001.