Dicionário da pesca da tainha – P – Q
PALAMENTO – Sistema de remo duplo manipulado por apenas um remeiro. O remeiro utiliza um remo em cada lado, se posicionando de costas à direção que conduz a embarcação. Usa-se o termo no feminino [palamenta] para designar o conjunto de apetrechos, equipamentos da canoa.
PAMPEIRO – Vento forte vindo dos Pampas.
PANEIRO RASO – Fundo falso da canoa onde é depositada a rede e suas tralhas. Coloca-se o paneiro principalmente em embarcação que tem rachaduras ou não fica abrigada em rancho-de-praia, visando preservar a rede da água que fica acumulada no seu fundo. Tafulho.
PANO – A parte da rede constituída pelos fios transados. O mesmo que Malha.
PANO MORTO – 1] Final onde se concentra a rede para ser ligada à tralha por intermédio da Encala; 2] Parte central da tarrafa que é considerada morta porque dificilmente a tainha malha neste ponto do equipamento.
PAPA-BAGRE – Antiga denominação do morador do Município de Itajaí, incluindo o distrito de Navegantes. Depois denominação exclusiva dos habitantes do Município de Navegantes.
PAPA-LAVAGEM – Embarcação artesanal rústica. Tem proa e popa molhada. Completamente reta com o fundo reto e liso. A menor das embarcações do nosso litoral. Geralmente é utilizada para o transporte de apoio às embarcações que ficam fundeadas ao largo, nas enseadas, rios e remansos. Muito utilizada na pesca de ribeira que utiliza a puçá para capturar siri.
PAPA-SIRI – Designação do morador do Município de Itajaí. Muitos estendem o nome aos moradores da praia de Balneário Camboriú.
PARAPAU – Pequena peça afixada no fundo da canoa para apoiar o mastro da vela de canoas adaptadas para este fim.
PARATI – Pescado encontrado durante todo o ano nas praias catarinenses. Tem a aparência de uma pequena tainha do corso. Muito capturada na pesca de tarrafa em praia e costão.
PARCEL – Ponto de referência dos pescadores para a pescaria no mar. Local previamente conhecido dos pescadores do litoral cujas coordenadas são passadas pela tradição oral de geração a geração. Exemplo: Parcel “Amola Faca”. Nesses locais está garantida a pescaria por abrigarem um arrecife, pedras submersas. Uma modalidade de pesqueiro.
PARELHA – 1] Dupla de embarcações da pesca industrial que atua em sincronia na ora da captura do pescado; 2] Conjunto formado pela canoa e sua respectiva rede e apetrechos.
PATILHA – O mesmo que Quilha. Parte externa do fundo da canoa. É a parte que serve de base para a canoa correr na carreira de estiva ou rolo.
PATRÃO – Proprietário da canoa e/ou rede. Muitas vezes encontramos proprietários diferenciados para o rancho-de-praia, canoa, rede e apetrechos de pesca.
PATRÃO DE PESCA – É o remeiro que fica na popa da canoa e comanda o grupo embarcado. O remo que utiliza é mais largo que os outros porque faz o papel de leme. Por isso também é chamado de remo-de-governo. Popeiro, mestre.
PÉ-DE-VENTO – Ocorrência de vento muito forte. Vendaval.
PEGÃO – Buraco na rede, avaria, rasgo.
PEIXADA – Promoção de evento culinário à base de peixe e frutos do mar. O prato principal é composto de caldo de peixe.
PEIXE BOIADO – Expressão que designa a posição do cardume mais na superfície, na linha d´água.
PEIXE DO CEDO – Identificado como aquele peixe que chega às praias do Litoral Norte de Santa Catarina no primeiro mês da safra da tainha. É um peixe que ainda está com energia para desenvolver o corso e por isso é considerado pelos pescadores como um peixe “assustado”, “nervoso”.
PEIXE DO TARDE – Identificado como aquele peixe que chega às praias do Litoral Norte de Santa Catarina no último mês da safra da tainha. É um peixe que está cansado, geralmente fazendo o retorno da migração e por isso é considerado pelos pescadores como um peixe “cansado” e calmo. Menos suscetível à reações bruscas e fortes.
PEIXE MALHADO – É o peixe que fica preso na malha da rede.
PEIXE SECO – É o peixe escalado e salgado, colocado ao sol por alguns dias para perder água e aumentar sua vida útil. Combira, cumbira.
PERAU – Local da praia ou costão onde já não dá mais pé e a pessoa tem de nadar. A expressão é sempre utilizada no sentido de perigo. Local no mar ou rio onde existe buraco grande, profundo.
PERNINHA MOLE – Termo que os pescadores utilizam para denominar os companheiros menos experientes, com menor desempenho na pescaria de tarrafa.
PERÓCA – Mistura de café passado com farinha de mandioca formando uma papa bem mole. Variações: pirão de café, miguelinho, miguéli-de-café, nolóli, loque, primiana de café, silivana.
PESCA ARTESANAL – Toda atividade pesqueira promovida por profissionais em pequenas e médias embarcações, cuja produção não está vinculada diretamente às indústrias de beneficiamento, manipulação, estocagem e comercialização de pescado em larga escala. O pescador artesanal está vinculado à Colônia de Pescadores e não ao Sindicato como no caso dos pescadores industriais. A pesca artesanal é promovida apenas na costa, não operando no mar aberto ou “mar azul”.
PESCA INDUSTRIAL – Toda atividade pesqueira promovida por grandes embarcações pesqueiras movidas a motor e vinculadas ao processo de beneficiamento, manipulação, estocagem e comercialização de pescado em larga escala. O pescador industrial está vinculado a Sindicato da categoria e não à Colônia de Pescador como é o caso do profissional da pesca artesanal. O pescador industrial atua no “mar azul” ou “mar aberto” de onde não se avista a costa.
PESQUEIRO – Local utilizado com regularidade por pescadores que conhecem a região e que, por experiência, confirmam que o local é bom para pescaria. Geralmente utiliza-se o termo para designar um bom local de pescaria no costão. Em mar aberto o pesqueiro recebe o nome de parcel.
PICARÉ – Tipo de rede de arrasto de pequeno porte.
PINGUELIM – Parte dianteira da agulha de fazer rede contendo um pino esculpido para segurar certa quantidade de linha.
PIRÃO – Mistura de farinha com líquido quente, morno ou frio de modo a formar uma pasta compacta. No litoral catarinense é comum encontrar pessoas que fazem pirão misturando farinha de mandioca com: leite, café, sopa de legumes, feijão, canja de galinha, caldo de peixe.
PIRÃO ASSUSTADO – Mistura da farinha com água fervendo no início e depois com água fria de forma a dar um choque térmico na farinha mudando a consistência da massa. Pode-se inverter a ordem em que são usadas água fria e água quente.
PIRÃO DE CAFÉ – Mistura de café passado com farinha de mandioca formando uma papa bem mole. Apesar do nome não podemos considerá-lo tecnicamente como um pirão porque não chega a formar uma massa consistente, permanecendo no estágio líquido. Variações: miguelinho, miguéli-de-café, nolóli, peróca, loque, primiana de café, silivana.
PIRÃO DE FEIJÃO – Pirão feito com farinha de mandioca e caldo de feijão. Também é conhecido em nosso litoral pelo nome de “fimiana” ou “primiana de feijão”
PIRÃO DE NÁILO [nálho, nylon] – Todo pirão escaldado feito de água pura e farinha de mandioca. Pirão branco.
PIRÃO ESCALDADO – Mistura da farinha com água fervendo ao máximo de modo a formar uma massa compacta e consistente.
PIRÃO ESCURO – Pirão feito com o líquido puro do caldo de peixe.
PIRÃO PAPA – Mistura de farinha de mandioca com líquido completamente frio ou morno [água, feijão, sopa, caldo de peixe, leite, café]. A massa fica bem mole e por isso recebe a denominação de papa.
PIRIZEIRA – Malha de piri – planta encontrada às margens dos nossos rios que foi amplamente utilizada pelos colonos e índios na confecção de cesto e esteiras.
PITEIRA – Arbusto que apresenta folhas grossas e longas que fornecem excelentes fibras para confecção de apetrechos de pesca.
PITIÚME – Cheiro de peixe salgado.
POITA – Âncora feita de pedra amarrada a pedaços de madeira. Serve para pequenas embarcações da pesca amadora e para redes de espera.
POMBEIRO – Comprador de grande quantidade de pescado na praia. Atravessador. Comerciante de pescado. Vendedor ambulante.
POMBOCA – Lampião utilizado no tempo que não era fornecida energia elétrica nos domicílios. Queimava “óleo de baleia” ou “óleo de bagre” e posteriormente passou-se a queimar querosene. A pomboca era utilizada pelos pescadores para a pesca noturna da tainha, principalmente no sistema de fisga.
PONTA DO ARAÇÁ – Parte do litoral do Município de Porto Belo que abrange as praias de Araçá, Prainha, Guarda, Caixa d´Água e Estaleiro.
PONTAL – 1] Altura interna da lateral da canoa; 2] Extremidades das enseadas, baías e praias. Ponta. Extremo.
POPA – Toda a parte traseira da canoa.
PORISCALDADO – Uma variação na feitura de pirão utilizando farinha de mandioca com água fria. Pirão papa, pirão cru, jacuba.
PORRANCA – Ventania.
PORRETE – O porrete é um pedaço de madeira pesada e dura com adaptação para as mãos do pescador que o utiliza para bater na cabeça do peixe. Muito utilizado na pesca do peixe-espada.
PRAIA DA TAINHA – Praia localizada no Município de Bombinhas. Antiga Praia do Júlio e Praia de Fora.
PRAIA DA ZÉFA – Designação antiga da atual Praia de Quatro Ilhas no Município de Bombinhas.
PRAIA DO JÚLIO – Antiga denominação da Praia da Tainha. Também já recebeu o nome de Praia de Fora.
PREAMAR – Maré enchente, movimento de subida da maré.
PRIMIANA DE FEIJÃO – Um variação na feitura de pirão utilizando farinha de mandioca e caldo de feijão. Variações: fimiana, pirão de feijão.
PROA – Toda a parte frontal da canoa.
PROEIRO – 1] Remeiro que ocupa o primeiro banco de proa da canoa. É seguido pelo contraproeiro; 2] tripulante que vai em pé na proa do barco tentando avistar o cardume de peixe; 3] administrador geral do barco de pesca industrial durante a navegação/pescaria.
PROEIRO – Na pesca industrial o proeiro é o gerente, o administrador da pescaria. É ele que toma as principais decisões, inclusive sobre o local de pescaria.
PROFILO – Fio utilizado na união de partes da rede. Geralmente uma rede de grande extensão é confeccionada por cerca quantidade de braçadas e depois unidas pelo profilo.
PROMOMBÓ – Modalidade de pesca que consiste em promover uma pequena fogueira dentro da canoa colocada na margem contrária de onde estão os pescadores batendo com paus na superfície da água e fazendo muito barulho. A atividade dos pescadores visa assustar o cardume para que os peixes corram em direção ao cerco feito pelas canoas e saltem para dentro delas.
PUXADOR – Cinto feito com uma tira grossa de couro onde é embrulhada a corda para puxar a rede da pesca de arrasto na praia.
QUADRA – Período de marcação da condição de tempo para a pescaria. Quadra boa é aquela que apresenta condições ideais de pesca; Quadra ruim é aquela que apresenta condições desfavoráveis para a pesca.
QUARADOR [quaradouro] – Local reservado onde se estende roupa que recebe o tratamento com água de barrela [água com cinza] para ser branqueada. Quarar a roupa. Qualquer local onde a roupa é estendida no chão.
QUILHA – parte externa do fundo da canoa. É a parte que serve de base para a canoa correr na carreira de estiva ou rolo. Em algumas localidades também é conhecida por Patilha.
QUINHÃO – Parte que cabe a cada membro da equipe de pesca. A quantidade de tainha recebida por cada pescador depende da atividade exercida na equipe [camarada, remeiro, chumbeiro, patrão, atalaia, cozinheiro, dono de rede/canoa].
FONTE: FLORIANO, Magru. Tainha – a tradição da pesca da tainha no litoral de Santa Catarina. Itajaí: Brisa Utópica, 2016.