Folclore – boi de mamão
O memorialista Juventino Linhares nos fala que no Centro de Itajaí era comum surgir, aqui e ali, algumas serestas promovidas por marinheiros, numa Hercílio Luz iluminada por lampiões à querosene mantidos pelos trabalhadores Paulo Rola e Sabino. Nas noites de verão as crianças brincavam de ‘ronda’, os homens jogavam sinuca e jogavam carteado nos bares e lugares adaptados atrás das lojas comerciais.
No período de dezembro até o carnaval eram formados os grupos de boi-de-mamão e pau-de-fita, bem como as ‘cantorias de Santo-Amaro’. Segundo conta, o destaque da festa do boi-de-mamão era a ‘bernúncia’ ‘com sua enorme bocarra, assustando as mulheres e engolindo as crianças que se postassem a seu alcance’. Itajaí costumava receber vários grupos vindos das localidades distantes do interior e até de Camboriú. Segundo relata, um tal de Zé Simão inseriu na brincadeira a ‘cabrinha’ aumentando cada vez mais a bicharada, para alegria das crianças. Alguns folcloristas garantem que a própria ‘bernúncia’ foi uma invenção dos praticantes do boi-de-mamão de Itajaí. Uma contribuição definitiva à cultura popular catarinense.
Arnoldo Cueca
Um dos maiores cantadores de boi de mamão em Itajaí foi o Seu Arnoldo José Pereira, popularmente conhecido pela apelido de Arnoldo Cueca. Ele aprendeu a ‘brincar com o boi’ no interior de Porto Belo. Quando migrou para Itajaí foi trabalhar na roça e, depois, na Fábrica de Cimento, em Salseiros. Um dia seu filho, Hélio, encontrou restos de um boi e mostrou para o pai. Ele resolveu fazer uma brincadeira de boi com o filho e acabou arrastando um bom número de crianças consigo. O diretor da Fábrica de Cimento teve conhecimento do ocorrido na pequena Vila Operária que a indústria mantinha em Salseiros, chamou Arnoldo à diretoria e forneceu todo apoio logístico para que fossem confeccionadas as demais peças que compõem o conjunto da brincadeira, como bernunça, cavalo, maricota. Assim, Arnoldo brincou por muitos anos até parar por um bom tempo por falta de estímulo. Acontece que a diretora de uma escola local foi até a casa de Arnoldo e o estimulou novamente a mostrar para as crianças do que consistia essa tal farra do boi. Seu Arnoldo aceitou novamente o desafio e não parou mais. Só na Festa Marejada foram duas décadas de apresentação. Vale o destaque que Seu Arnoldo também estimulava outras manifestações do folclore popular como é o caso do clássico Pau de Fitas e o Terno de Reis.
Herança
A neta de Arnoldo, Natália Pereira, assistia desde pequena as brincadeiras do vô e se encantava com tudo. Já adulta promoveu diversos eventos por Itajaí, principalmente na Casa da Cultura, resgatando todo o legado deixado por Seu Arnoldo Cueca e levando aos palcos e pátios das escolas locais. Em maio de 2025, por exemplo, apresentou o espetáculo ‘Vem ver nosso boi brincar – uma homenagem ao cantador Arnoldo Cueca’.
TEXTO: Magru Floriano. Itajaipedia.
FONTE: LINHARES, Juventino. O que a memória guardou. Itajaí: Univali, 1997.