Mendicância e moradores de rua
Quem costuma ler os jornais antigos de Itajaí está acostumado a ler apelos dos leitores e jornalistas pedindo que o poder público tome providências quanto ao grande número de pedintes, inclusive crianças. Passado um século, o perfil das pessoas em situação de rua mudou muito. Se antes tínhamos andarilhos que apresentavam problemas psicológicos; crianças mendicantes e soltas nas ruas sem frequentarem as escolas; pessoas da própria comunidade indigentes e expulsas do aconchego familiar … hoje, temos, majoritariamente jovens, de ambos os sexos, que ganharam a rua por uso regular de drogas, especialmente o álcool e o crack.
No ano de 2025, o secretário municipal de Assistência Social de Itajaí, Léo Severino, concedeu entrevista ao jornal Diarinho, estimando que cerca de 700 pessoas passaram pelo serviço de atendimento público somente no mês de julho. Desse total apenas 250 pessoas já possuíam cadastro na secretaria desde o início do ano, sendo o restante integrantes de uma nova formação social com características nômades. Isto é, um grupo formado por pessoas que perambulam regularmente entre os municípios do litoral catarinense, incluindo Itajaí neste itinerário.
Uma solução que a Prefeitura de Itajaí busca é recolher esses nômades em casas de apoio, principalmente em dias de frio e chuva, para lhes oferecer um mínimo de conforto, como banho e roupa limpa. Aqueles que aceitam ajuda mais consistente acabam sendo encaminhadas para comunidades terapêuticas especializadas, geralmente mantidas por denominações religiosas variadas, instaladas na periferia da cidade, notadamente na zona rural. Estima-se que cerca de 400 pessoas estão utilizando atualmente o serviço de internação voluntária com custeio pago pela municipalidade.
Mudança de perfil
No tempo antigo o mendigo geralmente era a pessoa que não tinha posses, estava desempregada ou foi expulsa de casa pela própria família. Essas pessoas também, com frequência, apresentavam problemas psicológicos e dificuldades de relacionamento social. Nos tempos atuais a grande maioria das pessoas em condições de rua foi levada a esta situação devido ao uso sistemático de drogas, notadamente o crack. Acontece que a maconha, cocaína e álcool … exigem um tempo maior de vício para levar a pessoa às condições desfavoráveis no convívio social. Contudo, isso é diferente com o crack. Em questões de meses o crack transforma por completo a pessoa em termos físicos, psíquicos e sociais, incapacitando para o trabalho e até para o convívio familiar. A pessoa acaba tendo um vício duplo por conta da questão econômica. Com poucos recursos os viciados acabam comprando álcool puro e crack, as duas drogas mais acessíveis e baratas.
Texto: Magru Floriano
FONTE: Diàrio do Litoral e entrevistas com Léo Severino e Sílvia Braga (Psicóloga).