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Vultos populares 1 – lembrados por Juventino Linhares

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O memorialista Juventino Linhares define as personagens consideradas emblemáticas ou folclóricas – por demonstrarem hábitos diferenciados do restante da população – como ‘tipos populares’ ou ‘vultos populares’. O cronista Emerson Ghislandi as define como ‘personagens folclóricas’. São pessoas que acabaram recebendo um carinho especial de toda a população e consideradas patrimônio cultural da cidade. Juventino Linhares utiliza uma expressão do famoso ‘João do Rio’ para qualificar essa gente especial como ‘alma encantadora das ruas’. Juventino lembra de nomes das primeiras décadas de 1900, enquanto Emerson fala de personagens de 1970 em diante. São relatos, portanto, de dois tempos diferentes da história de nossa cidade.

ANTÔNIO PEREIRA – tipo ‘valentão’, mulato claro, prestava serviços de ‘segurança’ para políticos durante os comícios e demais eventos eleitorais.

ANTÔNIO REPOLHO – marítimo. O primeiro contrabandista que ficou popular na cidade por conseguir bons produtos de acesso ao público em geral.

CHICO BOTÃO – português proprietário e mestre de um ‘lanchão’ que promovia transporte na costa catarinense, tinha como característica terminar as palavras sempre em ‘i’. Morreu em uma tempestade.

DANIEL DO ZÉ GERALDO – inventou uma lista de ‘subscrição espontânea’ para angariar fundos visando ir aos EUA apresentar ao povo americano o nosso boi-de-mamão.

JOÃO ARACAJU – Era um ‘capoeira’ e numa noite de bebedeira na tradicional Festa de Nossa Senhora da Conceição deu conta de brigar com três policiais.

JOÃO MOURA – andava com uma jararaca no bolso ou no peito, para chamar atenção das pessoas sobre sua atividade de benzedor.

JOVE – vagou pela cidade por muitos anos, sem capacidade de articular uma frase com alguma coerência. Maltrapilho, chamava a todos de ‘titio’. Quando molestado tinha seus ‘momentos de fúria’ como forma de defesa.

JUDITH – era reconhecida por todos como ‘a louca do amor’ ou ‘a louca por amor’. filha de família abastada ‘perdeu o juízo’ quando, recém-casada, seu marido morreu em um naufrágio. Perambulava pela zona portuária, vestida de branco, esperando pelo conjugê.

MANECA ZEFERINO – vivia cantarolando algumas frases de efeito que inventava tipo: ‘O direito do anzol / é ser torto e ter barbela …’, ‘O ovo tem duas gemas / uma branca, outra amarela’

MANOEL – tinha origem portuguesa e apareceu em Itajaí por volta do ano de 1918. Dizem que ‘perdeu a razão’ vitimado pela Gripe Espanhola. Tinha o hábito de encher os bolsos com pequenas pedras, sentar á beira do rio sentenciando: ‘Lá vai ouro para Portugal’.

MARIA DOIDA – velha e maltrapilha, tinha como destaque seu dicionário de palavrões que utilizava sem receios diante de uma mínima provocação.

MILITÃO – tinha o hábito de frequentar os cultos religiosos e apartear o sacerdote em tom elevado sentenciando: ‘Muito bem, senhor vigário’.

NECA MOURA – filho de João Moura, se exibia na rua como contorcionista de circo.

NICOLAU DA BAIXADA – viveu em Itajaí na região próxima ao Rio Itajaí, defronte à sede da Samarco. Tinha um bar, usava argolões de ouro nas orelhas, era português oriundo da África.

OLIVÉRIO – velho marítimo português que resolveu fixar residência em Itajaí. Tinha uma venda na Rua Lauro Müller onde, ficava até horas altas da noite bebendo e contando histórias mirabolantes aos seus clientes. Juventino Linhares qualificou essas histórias do ‘velho marinheiro’ assemelhadas às histórias do Barão de Munchhausen ou à ‘Tartarim de Tarascon, fixados na literatura mundial como os reis da Mentira’.

OS POMBINHOS – dois irmãos gêmeos, trajados de branco, vendiam frutas e verduras pelas ruas, depois usavam o dinheiro na bebida. Reagiam com violência diante do apelido de ‘pombinhos’.

PEDRO CABO – policial mulato e gordo, tendo feições de índio. Pegava as roupas dos jovens que estavam tomando banho no rio e entregava aos pais em troca de recompensa pela ‘deduragem’ da traquinagem dos filhos.

PEDRO TUBARÃO – boêmio, costumava oferecer versos de improviso em troca de um gole de aguardente.

PRETA GUILHERMINA – andava maltrapilha pela cidade carregando uma pequena trouxa nos ombros. Como era de riso fácil e estridente, acabava sendo alvo de muitas brincadeiras por parte de populares.

TIA EVA E GUILHERMINA – elas eram corcundas e, depois de uma certa gratificação, permitiam que lhes passassem as mãos na corcunda como atrativo de sorte.

VELHO RAMOS – pessoa que conseguia argumentar com facilidade, apesar de suas reações e gestos diferenciados. Usava uma bengala que utilizava, às vezes, como defesa. Tinha público numeroso a lhe estimular o discurso.

OUTROS PERSONAGENS

Juventino ainda cita em suas crônicas nomes como: João Perigoso, Elisa Chuva, Sinhá Rita Gaipava, Cearoa, Caboclo Lindo, Augusto Caga Fogo, Alexandre Guaiá, Antônio Tatu, Zé Presidente, Cadete, Manoel Bento, Chico Espanhol, João Camilo, Preto Custódio, Luiz da Marinha, Tio Paulo, Pedro Repolho.

 

TEXTO: Magru Floriano. Itajaipedia.

FONTES:

1 – LINHARES, Juventino. O que a memória guardou. Itajaí: Univali, 1997.

2 – FLORIANO, Magru. Judith – a louca de amor – romantismo tardio em Itajahy. IN: Anuário de Itajaí 2021. Itajaí: FGML, 2021.

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