Revolução de Trinta
No ano de 1930 ocorreram três eleições sucessivas. A primeira – para eleger o presidente da República a 01 de março; a segunda – para eleger o presidente da Província de Santa Catarina a 03 de agosto; a terceira – para eleger o prefeito de Itajaí a 14 de setembro. Para presidente da República venceu Júlio Prestes desencadeando, em seguida, a Revolução de 30. Para presidente da Província foi eleito Fulvio Aducci.
Na eleição municipal a principal disputa ocorreu entre o candidato governista Irineu Bornhausen e o oposicionista José Eugênio Müller. Irineu representava a continuidade do Governo Konder, com Marcos Konder administrando Itajaí por quinze anos obtendo mandatos sucessivos no período de 1915 a 1930. Contudo, ele renúncia à candidatura denunciando arbítrio e violência por parte das forças situacionistas comandadas por Marcos Konder. Em carta ao seu eleitorado, que publica no jornal O Pharol de 10 de setembro de 1930, José Eugênio Müller fala em ‘tirania’ e ‘ferocidade’ das forças policiais a mando da oligarquia. Concorrendo sozinho, Irineu Bornhausen, cunhado de Marcos Konder, obteve 1.777 votos, contra 377 nulos/brancos. O Colégio eleitoral era de 3.077 cidadãos, mas apenas 2.154 votaram.
MARCAS DO CORONELISMO
Além do uso abusivo da força policial para inibir ações legítimas da oposição o Governo Konder utilizou variados recursos para obter sucesso eleitoral. Entre esses recursos destacamos a inauguração de obras públicas às vésperas da eleição. Foi o caso da inauguração da ponte de cimento-armado sobre o Rio Itajaí-Mirim entre a Barra do Rio e Cordeiros no dia 10 de agosto. Além de fazer do evento um grandioso comício favorável à candidatura Irineu Bornhausen, o prefeito Marcos Konder inaugurou a ponte com o seu próprio nome. Também inaugurou a sede da Intendência Distrital de Luiz Alves, localidade palco de abuso policial contra as forças de oposição, devidamente denunciadas na carta-renúncia de José Eugênio Müller.
A REVOLUÇÃO DE 30 EM ITAJAÍ
Acontece que todo esforço do coronel Marcos Konder em fazer seu cunhado sucessor na Superintendência de Itajaí não valeu nada, porque no mês seguinte estourou a Revolução liderada por Getúlio Vargas, conhecida popularmente como Revolução de 30. A família de Marcos Konder se refugia imediatamente em Florianópolis, depois Santos e Rio de Janeiro.
As tropas revolucionárias chegam à Itajaí no dia 14 de outubro vindas de Blumenau. Era o Batalhão Severiano Maia, que tinha no comando Pedro Kuss, que foi recebido, na ponte Marcos Konder, pelo coronel José Eugênio Müller. As forças revoltosas tomaram o Palácio da Superintendência instalando o tenente Antônio Quintas Maia no cargo de prefeito-militar. Tempos depois, o interventor estadual – general Ptolomeu de Assis Brasil – nomeou como interventor em Itajaí o Capitão Adolpho Germano de Andrade e a revolução se consolida.
IRONIA DA HISTÓRIA
Neste período pelo menos dois episódios são emblemáticos. O primeiro deles diz respeito ao fato de Marcos Konder inaugurar uma ponte, às vésperas da eleição, com seu próprio nome e, seu candidato vence a eleição mas não toma posse. Além disso, seu opositor, Coronel José Eugênio Müller, recepciona as forças revolucionárias vindas de Blumenau justamente nesta ponte. Dai, Exército e forças de oposição caminham até o centro da cidade onde instalam o governo revolucionário no Palácio das Municipalidades, atual Palácio Marcos Konder.
O segundo episódio diz respeito ao fato de que o Coronel José Eugênio Müller entre a multidão de opositores discursa na Praça República, defronte ao Cemitério Municipal e propõe a troca do nome para Praça João Pessoa – em homenagem ao candidato a vice-presidente na chapa de Getúlio Vargas assassinado durante a campanha eleitoral e tido como ‘mártir da democracia’. Acontece que atualmente esta praça, que fica defronte à Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento, atende pelo nome de Praça Governador Irineu Bornhausen.
A MORTE DE JOCA BRANDÃO
No dia 01 de novembro o governo revolucionário promoveu um grande evento, inclusive com missa campal, na Praça João Pessoa, seguida de romaria até a sepultura de Pedro Ferreira – adversário histórico da oligarquia Konder. Acontece que Joca Brandão [João Marques Brandão] ao discursar sofreu um enfarte fulminante, falecendo no local. Atualmente, neste mesmo local, temos a Praça Pio XII e a ‘Cruz Deitada’ ao lado da Igreja do Santíssimo Sacramento, ladeando com a Avenida Marcos Konder.
A VOLTA AO PODER
Acontece que as forças conservadoras mantinham uma estrutura de poder em Itajaí que ultrapassava a questão de cargos públicos. Era o poder econômico. Assim, com o uso excessivo do poder econômico os Konder voltam ao poder já na primeira eleição promovida pelo novo regime. A eleição para prefeito ocorre no dia 01 de março de 1936, quando Irineu Bornhausen, bate os candidatos oposicionistas Arno Bauer e o legendário José Eugênio Müller. Irineu não concluiu seu mandato, renunciando em 1939. Entre 1951 e 1956 exerce o cargo de governador do Estado de Santa Catarina, depois de senador entre 1959 e 1967.
Depois da derrota eleitoral de 1936, José Eugênio Müller transfere residência para o Rio de Janeiro onde exerce o cargo de prefeito de Nova Friburgo por duas vezes, ocupa o cargo de presidente do Banco do Estado do Rio de Janeiro entre 1954 e 1957 e, é eleito deputado federal.
TEXTO: Magru Floriano. Itajaipedia.
FONTE: ALÉCIO, Fernando. A eleição municipal de 1930 em Itajaí. IN: Anuário de Itajaí 2016. Itajaí: FGML, 2016. Páginas 133-141.