Religião: Procissão de Nossa Senhora dos Navegantes
A localidade de Navegantes era conhecida no tempo antigo, quando ainda era uma comunidade pesqueira e agrícola incluída no território do Município de Itajaí, com nomes variados como: ‘Outro Lado’, Lado norte do Rio Grande do Itajaí’, ‘Arraial de Santo Amaro’, Arraial de Navegantes’, ‘Bairro de Navegantes’. Foi somente a 26 de agosto de 1962 que a localidade foi emancipada com o nome de Município de Navegantes. Por este motivo, a grandiosa festa em homenagem a Nossa Senhora dos Navegantes fez parte da História de Itajaí somente até o ano de 1962.
A localidade foi sendo habitada aos poucos, principalmente com pessoas oriundas da região de Penha, quando da falência da Armação – indústria de produtos oriundos da captura de baleias. No ano de 1895 o vigário de Itajaí – padre Antônio Eising – em nome da comunidade do lado esquerdo do Grande Rio do Itajaí solicitou ao bispo diocesano de Curitiba – Dom José de Camargo Barros – a permissão da construir uma pequena capela, no que foi prontamente atendido. A nova igreja de Itajaí teria como protetores: Nossa Senhora dos Navegantes, São Sebastião e Santo Amaro. O santo mais cultuado na comunidade era Santo Amaro, daí, por muito tempo, o local ser conhecido como Arraial de Santo Amaro. Mas, ao longo do tempo, a devoção à Nossa Senhora dos Navegantes foi ficando mais forte e mais popular, fazendo com que a comunidade fosse gradativamente sendo conhecida como Navegantes. Ajudou muito nessa mudança de nome da comunidade a grandiosa Festa de Nossa Senhora dos Navegantes, promovida todo dia dois de fevereiro.
Esta festa começou a ficar cada vez mais popular, recebendo caravanas de romeiros de todo o litoral catarinense. A procissão na foz do Rio Itajaí contava com volumoso público que ficava acomodado nos trapiches e ribanceiras dos dois lados do rio, e, também, um número expressivo de fiéis que participavam da procissão fluvial lotando os barcos de pesca e de transporte de carga que frequentavam usualmente o Porto e a Hidrovia do Rio Itajaí – entre Blumenau e Itajaí. Nem mesmo a ocorrência de três tragédias, que vitimaram inúmeras pessoas, arrefeceu o ânimo dos fiéis, com a procissão fluvial permanecendo no calendário religioso de Santa Catarina até os dias atuais.
Para se ter uma ideia da importância da festa, quando pesquisamos nos jornais de época sobre os promotores da Festa e da Procissão vamos encontrar nomes de destaque das duas comunidades (Itajaí e Navegantes) como é o caso de: Eugênio Müller, Marcos Konder, Bruno Malburg, João Marques Brandão, João Gaya, Francisco de Paula Seára.
Uma curiosidade interessante diz respeito à data da festa. Segundo alguns historiadores e memorialistas, a festa chegou a ser realizada também em datas diversas, além da tradicional data de 02 de fevereiro, como: 20 de janeiro, 08 de setembro, 03 de dezembro. Tudo indica que a data de 02 de fevereiro (ou do seu domingo mais próximo) começou a se fixar a partir do ano de 1901. A comunidade do ‘Outro lado’ acabou ficando com um ‘circuito’ de festas que iniciava no Natal (dezembro), Primeiro do Ano, 15 de janeiro (Santo Amaro), 20 de janeiro (São Sebastião) e 02 de fevereiro (N.S. dos Navegantes). Ainda tem quem emendasse tudo com um carnaval bem esticado com seu tradicional entrudo.
O grande cronista Juventino Linhares assim definiu a festa: ‘A festa dos Navegantes que constitui, em Itajaí, tradição comovente e venerada, é, sem dúvida, a mais popular e concorrida de nossas festividades religiosas.” (O Pharol, 31 de janeiro de 1925).
Texto: Magru Floriano.
FONTES:
1 – D’ÁVILA, Edison; D’ÁVILA, Márcia. Festas e tradições populares de Itajaí. 2.ed. Itajaí: FGML, 2001.
2 – PIAZZA, Walter F. Folclore de Brusque. Brusque: SAB, 1960.
3 – SOARES, Doralécio. Aspectos do folclore catarinense. Florianópolis: ed. autor, 1970.