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Cocada

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Toda cidade tem diversos locais públicos onde pessoas se reúnem para fazer a crônica diária e, principalmente, falar de política. Mas, um deles sempre acaba ficando mais famoso e merecendo mais destaque. Em Curitiba, por exemplo, existe a Boca Maldita; Florianópolis tem o seu Senadinho; e, Itajaí, tem a Cocada. Os motivos que levaram aquele cantinho de praça ser batizado de Cocada ficaram perdidos em algum ponto do passado. O senadinho itajaiense, nos seus primórdios, ficava entre os bancos da Praça Vidal Ramos localizados defronte à Igreja Imaculada Conceição e do Edifício Olímpio, que, por sua vez, abrigou diversos cafés populares, como o tradicional ‘Café Democrático’. Passado um século a Cocada continua no largo da Igrejinha Velha, agora tendo como base de apoio a Lanchonete da Bete, que fica distante cerca de vinte metros do marco inicial. Mas, o ambiente é o mesmo: Igreja Imaculada Conceição, Rua Hercílio Luz, Edifício Olímpio, Praça Vidal Ramos …. e muita gente tomando café e colocando a conversa política em dia. Os encontros ocorrem de segunda à sexta, entre as sete e nove horas da manhã. A curiosidade fica por conta de um segundo grupo, com pessoas de mais idade, que se reúne uns dez metros para frente, tendo como base o ‘Comércio do Júlio’. Dizem, em tom de brincadeira, tratar-se, respectivamente, da Câmara e do Senado itajaienses.

POR QUE O BANCO DA PRAÇA VIDAL RAMOS RECEBEU O NOME DE COCADA?

A Cocada é para os itajaienses o mesmo que a ‘Boca Maldita’ representa para os curitibanos e o ‘Senadinho’ para os florianopolitanos: um ponto de encontro para se fazer a crônica da cidade, principalmente para troca de informações políticas. O local original da Cocada são dois bancos localizados no lado direito da frente da Igreja Imaculada Conceição e Café Democrático, na Rua Hercilio Luz. Atualmente a Cocada está localizada nas duas mesas que ficam no Calçadão da Rua Hercilio Luz defronte à Lanchonete da Bete, há cinquenta metros do local original.

Os motivos que levaram a população a chamar o local de Cocada é oficialmente desconhecido. O memorialista Claudio Bersi defende a ideia de que o nome faz referência a ‘Cabeças-de-coco ali reunidas, um tom irônico aos idosos’ e a calvície comum nesta idade. Ricardo Pereira afirma no grupo Itajai de Antigamente (Facebook) que ouviu seu pai relatar que o nome faz referência a um vendedor de cocadas que chamava muita atenção dos frequentadores do local por seus jeitos afeminados e seu carisma. Primeiramente o vendedor de cocada recebeu o nome de ‘Cocada’ e, depois, o local passou a ser reconhecido como Cocada, ou o lugar onde se comia a cocada do Cocada. Já a memorialista Marlene Rothbarth argumenta que o nome é uma referência direta ao formato dos bancos da praça daquela época.

O ex-vereador Tito Filomeno publicou um extenso texto no jornal Diário do Litoral (13 de novembro de 2010, pag. 17) onde descreve a Cocada nos seguintes termos: ‘Era um pedacinho de terra no adro da igrejinha velha, sombreado por uma figueira. Dizem de 80 anos. Dizem, também, que foi plantada por Alberto Werner quando prefeito, num banco hexagonal antes de madeira, depois de marmorite, bem mais confortável, mandato fabricar pelo saudoso Gabriel Collares (…) na cocada tudo se sabia, desde a alta do dólar até um lance de tainhas, na praia Vermelha. Ao redor daquele banco, termômetro da sociedade de então, em bloquinhos, uns de costas para outros, em baixo ou alto som, conforme fosse o assunto, fecharam-se negócios importantes (…) Fizeram-se e desfizeram-se casamentos. Enfim, foi ponto de encontro de ilustres personagens (…).

Tito Filomena relaciona os seguintes ‘cocaideiros’ históricos: Arnoldo Polhein, Gabriel Collares, Marcos Konder, Paulo Bauer, Octávio Lenzi, Ary Mascarenhas, Zena (Samuel Heusi Júnior), Paulo Malburg, Mário Uriarte (Marico), Emilio Gazaniga, João Corrêa, Jaime Vieira, João Amaral, Paulo Werner, João Heill, João Cunha, Julio Teixeira, Hélio Douat, Antônio Fóes, Orlando Fóes, Victor Dutra, Juca fotógrafo, Eurico Krobel, Humbelino Damázio de Brito, Genésio Miranda Lins, Aníbal César, Dênis Bornhausen.

O memorialista Juventino Linhares nos oferece o seguinte depoimento sobre a Praça Vidal Ramos onde está localizada a Cocada: “Foi este logradouro, fronteiro à nossa velha matriz, durante dilatados anos, a sala de visitas da cidade, o ponto predileto dos encontros, idílios da mocidade, o local sempre escolhido para as manifestações de civismo de nosso povo nos seus momentos de vibração coletiva, nas suas horas de glória ou de regozijos; a tribuna dos comícios populares e políticos; dos agrupamentos de protestos […] tudo rodava em torno daqueles bancos toscos do jardim primitivo, rústico […]’ [Página 21].

TEXTO: Magru Floriano. Itajaipedia.

FONTES:

1 – LINHARES,  Juventino. O que a memória guardou. Itajaí: Univali, 1997.

2 – ROTHBARTH, Marlene Dalva da Silva. Itajaí em crônicas. Itajaí: aut., 2010.

3 – Diário do Litoral.

 

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