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Vultos populares 2 – após 1970

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O memorialista Juventino Linhares definia as personagens consideradas emblemáticas ou folclóricas – por demonstrarem hábitos diferenciados do restante da população – como ‘tipos populares’ ou ‘vultos populares’. O cronista Emerson Ghislandi as define como ‘personagens folclóricas’. A colaboradora do grupo no Facebook ‘Itajaí de antigamente’, Kika Teixeira, garante que ‘fizeram parte da paisagem da cidade’. Em comum podemos dizer que essas pessoas acabaram recebendo um carinho especial de toda a população sendo consideradas patrimônio cultural da cidade. Juventino Linhares utiliza uma expressão do famoso ‘João do Rio’ para qualificar essa gente especial como ‘alma encantadora das ruas’.

NOMES LEMBRADOS POR KIKA PEREIRA, MAGRU FLORIANO E EMERSON GHISLANDI – Período a partir de 1970

AEROLIN – Sujava as vitrines das lojas por volta do ano de 1999. Quando perguntado sobre algum feito respondia de forma simplória: ‘Foi o coronel que mandou …’. Residia na Avenida Sete de Setembro.

ANDRÉ – Pessoa simples, frágil fisicamente, andava pela cidade sempre cabisbaixo e triste. Era assíduo frequentador do grupo que esperava os sábados para receber ajuda da filantrópica Geni Liberato.

ARMANDO – Ele sentava de pernas cruzadas, balançando a que ficava por cima, batendo de forma sincronizada no chão uma garrafa pet.

AS MARCIANAS – Duas irmãs negras, perambulavam o dia inteiro pela cidade. A mais velha delas, sem qualquer cerimônia, fazia xixi na frente de todos em pleno passeio público. Chegavam a dormir nas marquises de lojas, inclusive na frente dos cinemas Cine Scala e Coral na Rua XV de Novembro. A mais velha morreu nos primeiros anos de 2000, sendo que logo em seguida a mais nova também deixou as ruas da cidade de forma repentina.

BOLA SETE – Frequentou as ruas da cidade na década de 1980. Tinha a cabeça raspada e às vezes aparecia com a cabeça suja de farinha de trigo.

CARLOS ALBERTO – Conhecido ‘Homem do chifre’, circulava entre Itajaí e Balneário Camboriú, muitas vezes fazendo suas peripécias até na Capital. Usava roupas extravagantes e um chapéu com chifres. Com um megafone em mãos ganhava uns trocados fazendo propaganda de algum ponto comercial da cidade.

CHOCOLATE – Ademir era analfabeto e vendia livros que ganhava de pessoas amigas. Seu principal ponto era o Mercado Velho.

CURRU – Foi atleta do Clube Náutico Marcílio Dias e seu funcionário por décadas, residindo no próprio Estádio Doutor Hercílio Luz. Também era reconhecido como um dos grandes carnavalescos de Itajaí. Fazia fantasias com críticas sócio-políticas.

DIAMANTE NEGRO – Homem negro e muito forte, andava com um tabuleiro de cocadas sobre a cabeça. Tinha uma voz forte e grave, cantando músicas antigas com muita desenvoltura.

DIEGO DOIDO – Morador do Costa Cavalcante. Gostava de participar dos eventos políticos pelas ruas da cidade.

DONA ILMA ou IRMA – Ela circulava pela cidade entregando o jornal ‘A Nação’ e, depois, o Jornal O Tempo. Pessoa idosa, por todos amparada. Murava em uma travessa da Rua Brusque.

DONA NATALINA – morava em um barraco improvisado nas proximidades da Rua Anita Garibaldi com Alexandre Fleming. Apareceu na cidade depois da enchente de 1983. Lavava roupa e louça de forma improvisada, dispondo tudo em praça pública.

FAÍSCA E FUMAÇA – Dois idosos, moravam na Félix Busso Asseburg na década de 1980. Chamavam atenção de todos pelo modo como se trajavam e andavam, um atrás do outro.

FRITZ – Perambulava pelas ruas de Itajaí a esmo, nada fazendo e nada querendo.

JAPONÊS – Andarilho que percorria grandes distâncias entre Itajaí e os demais municípios da região na década de 1970. Andava com pequenas sacolas e mochilas – contendo principalmente peças de roupas que ganhava de populares – dependuras em seu corpo. Essas sacolas penduradas eram a sua marca registrada.

JOÃO DA BANCA – Era bipolar e sumia por meses para, repentinamente, reaparecer contando histórias mirabolantes. Se dizia sócio da Rede Globo e Editora Abril. Foi proprietário de banca de revista na confluência das ruas Brusque com Umbelino de Brito.

JOÃO GRANDÃO – Andava pela cidade todos os dias, principalmente no trajeto Caninana – Cabeçudas. Dizem que corria atrás das mulheres.  Também era conhecido por ‘João Bobão’ ou ‘João Doido’.

JULINHO PALMEIRENSE – Cego, ficava defronte à loja Calçados SB, na Rua Hercílio Luz e soltavam muitos palavrões quando alguém passava por ele dizendo que o Palmeiras era um ‘timéco’ ou que o Corinthians era o melhor time do mundo. Estava sempre trajando seu traje de gala: a camisa do verde do Palmeiras. Também ficou conhecido como ‘O ceguinho da Rua Hercílio Luz’. No início ele fazia ponto defronte à conceituada ‘Discolândia do Beto’, imitando um radialista que oferecia música às moças que passavam pela calçada. Era comum alguém cantar a pedra pra ele tipo: ‘Lá vem fulana, oferece tal música pra ela’ ou ‘Lá vem cicrana, manda um recadinho pra ela do fulano de tal”… e lá fazia as vezes de locutor o insuperável Julinho.

JUREMA – Circulava pelos lados do Parque Dom Bosco e rua Brusque. Baixinha e sorridente, não obstante não ter dentes.

MAMÃO – Segundo Kika Pereira “Baixinho, gordinho e de cabelo avermelhado, andava sempre de camisa estampada, pelos arredores do Camelô, trocando relógio, comprando relógio, e falando sozinho, como se estivesse sempre mastigando.” Morreu nos primeiros anos da década de 2000.

MANECA DO FACÃO – Sebastião era muito conhecido da comunidade de Cordeiros também com a alcunha de ‘Maneco Gago’ e ‘Bodão’ além de diversos outros pseudônimos depreciativos. Circulou na década de 1980 com facão na cintura, botas grandes, chapéu de gaúcho. Era proprietário de uma carroça com a qual prestava serviços gerais à comunidade. Seu cavalo de estimação recebia o nome de ‘Mosquito’. Segundo informações colhidas no Grupo Itajai de Antigamente, no Facebook, ele teve problemas pessoais por não ter assimilado a tragédia de perder dois filhos afogados.

MARCINHO – Filho de empresário bem sucedido da Rua Tijucas, acabou numa situação de desamparo, vendendo guloseimas para estudantes na calçada do Grupo Escolar Victor Meirelles – Rua Gil Stein Ferreira, e, também, durante os jogos do Clube Náutico Marcilio Dias.

MARGARETH – Conhecida como a ‘Moça da janela’ ou a ‘Cantora da janela’ por passar horas cantando na janela de sua casa – segundo piso do prédio que abrigava o tradicional ‘Bar Garoto’ na Rua Brusque com Praça Governador Irineu Bornhausen. Dizem que vivia à espera do noivo que nunca aparecia. Faleceu a 06 de fevereiro de 2010.

MARIA DO CAIS – Olga da Silva Leutério nasceu em Timbó e foi adotada ainda criança, sendo vítima de violência doméstica, fato que a motivou a fugir de casa se radicando em Itajaí. Inicialmente ela se abrigava entre as pilhas de madeiras e, depois, no prédio abandonado da Receita Federal, na Avenida Coronel Eugênio Müller [futura sede da Prefeitura de Itajaí]. Ali, se firmou como líder do grupo de despossuídos que utilizavam o local como local de abrigo. Quando a municipalidade conseguiu o prédio junto ao Governo Federal para abrigar a nova sede da Prefeitura, Olga foi morar em um conjunto habitacional em São Vicente. Quando o Partido dos Trabalhadores assumiu a Prefeitura de Itajaí, 2005, Olga ganhou o status de líder comunitária e sua imagem foi cultuada como a imagem de uma mulher vítima da sociedade excludente e machista, que soube organizar seus pares e resistir à violência social. Por isso, chegou a emprestar seu apelido à Editora da Fundação Genésio Miranda Lins – Editora Maria do Cais.

MARIA GELADEIRA – Viveu no imaginário coletivo nos anos de 1960 a 1980.

MISS BRASIL 2000 – Mendiga negra, magra. Ficava defronte do Supermercado Riachuelo, na Rua Hercílio Luz, encenando desfile de miss. Às vezes equilibrava uma peça na cabeça, geralmente uma maçã que pegava ali mesmo no supermercado. Alegrava-se quando o pessoal batia palmas durante o seu desfile improvisado.

MY FRIEND – Velho, baixo, magro. Discursava pelas esquinas e bares. Frequentava a Rua Hercílio Luz. Segundo consta foi ex-combatente e gostava de enunciar algumas frases em um inglês enrolado. Na década de 1980, à noite frequentava o tradicional ‘Bar do Tulipa’ defronte à Univali, Rua Uruguai. Os estudantes ali reunidos gostavam de pagar ‘umas e outras’ para o velho boêmio e carismático.

NEGO BUTI – Primo de Nego Dico e chegou a jogar futebol profissional defendendo a camisa do Clube Náutico Marcílio Dias. Vítima do alcoolismo, acabou encontrando abrigo em uma casa de recuperação nas primeiras décadas de 2000. Era reconhecido por ter ‘a risada mais folclórica da cidade’.

NEGO DICO – Valdir Flormino Rafael trabalhava como limpador de peixe no Mercado de Peixe de Itajaí e se tornou o torcedor-símbolo do Clube Náutico Marcílio Dias por sua presença festiva junto ao público que frequentava a arquibancada descoberta – conhecida popularmente por ‘esquenta galho’. Sua alegria contagiava a torcida mesmo quando o jogo estava modorrento ou o time da casa perdia por um placar mais elástico. Faleceu no dia 29 de junho de 2004, recebendo diversas homenagens como: nome de praça na Rua Uruguai e um retrato afixado na Sala dos Troféus do Marcílio Dias confeccionado pelo artista Wagner Kunhen. Os próprios torcedores tomaram a iniciativa de nomear a arquibancada descoberta de ‘Arquibancada Nêgo Dico’. Era primo de outro torcedor histórico do Marcílio – Nêgo Buti. Ambos eram acometidos da doença do alcoolismo e eram muito respeitos pela população itajaiense.

Ô PAI! –  Homem idoso que revira o lixo das lojas da Rua Hercílio Luz. Geralmente fica discursando em voz alta, não poupando os políticos locais. Quando pede algo para um transeunte utiliza diversas vezes a expressão ‘Ô pai! Ô pai!’. Seu nome é Valdolinir de Souza Cunha e veio de Rio do Sul por volta do ano de 2000.

PIRELLI – Pessoa de hábitos exóticos, vivia na região da Rua Brusque. Protagonista de crônica do jornalista Emerson Ghislandi por suas atitudes pouco convencionais e até mesmo inesperadas. Seu nome de batismo era Humberto Pereira e nas festividades natalidades costumava se vestir de Papai-Noel para alegria geral da criançada.

PORÓCA – Morador da Rua Jorge Mattos – nas Casas Populares.

PROFETA – Homem negro de porte avantajado. Frequentava a Praça Vidal Ramos e costumava pregar mensagens bíblicas. Andava sempre em companhia de um cão que demonstrava estar bem adestrado.

QUEIJO – Carnavalesco emblemático, com suas fantasias inusitadas e criativas era protagonista do carnaval de rua de Itajaí junto com o polêmico Curru.

QUÍMICAS – Jovem malabarista que fica no sinaleiro da esquina da Univali. Seu apelido deve-se ao fato de que ele chegou a pedir dinheiro para os motoristas garantindo que era calouro de ‘químicas’ na Univali – um curso, aliás, que não existia na instituição.

QUINCAS – ‘Um ser humano destituído de qualquer maldade. Comportamento pacífico, humilde e educado’. Assim retrata ‘Quincas’ o jornalista Emerson Pedro Ghislandi. É um personagem muito estimado pela comunidade da Fazenda e, infelizmente, alvo de bullying pela gurizada de rua.

ROSITA MEYER – Conhecida popularmente como a torcedora-símbolo do Clube Náutico Marcílio Dias. Começou a frequentar o Estádio Doutor Hercílio Luz na década de 1960 quando seu irmão – Ivo Meyer – foi contratado como jogador do clube, não deixando de assistir um jogo ou treino do time.

SAMURAY – Andava correndo pelas ruas de Itajaí até 2023, muitas vezes com roupa estilizada de quimono e fazendo gestos que simulavam artes marciais. Fazia essas encenações defronte a postes da rede de iluminação elétrica.

SORRISO – Era um jovem que tinha deficiência e mantinha, por questões físicas, uma expressão próxima de um sorriso. Seu rosto sempre ficava virado para um lado, nunca para frente. Algumas pessoas o conheciam por ‘Risadinha’.

TATU – Morador em condição de rua, vivia no centro da cidade entre amigos, sempre com uma garrafa de cachaça em mãos. De pequeno porte, era extremamente carismático.

TE LIGA – circulou por volta dos anos 1990 no Centro, próximo ao Posto de Saúde. Tocava violão e dedicava músicas ás meninas que passavam pelo passeio público. Residia próximo à Praça Busso Asseburg, defronte ao Mercado Público. A saca de sua casa era decorada com objetos velhos sem qualquer critério estético.

TITI – Circulava entre o Parque Dom Bosco, Rua Brusque e Clube Náutico Marcílio Dias vendendo amendoim. Tinha problemas físicos e era muito bem quisto pela população, tendo clientela cativa. Também era chamado de ‘Titi do Amendoim”.

TOLINHO DO ARAME – No Bairro São João, na década de 60, circulava pelas ruas um homem que vivia com arames em mãos, fazendo continuamente movimentos de dobra dos mesmos. Por essa característica era reconhecido por todos como o Tolinho do Arame.

TONHO DA CRUZ – Perambulou por toda a América do Sul carregando uma cruz. Morador de Cordeiros. Tem até livro escrito contendo ideias apocalípticas.

VELHO CANDINHO – Esmolava pela cidade. Seu ponto preferido era o Supermercado Riachuelo, defronte ao Grupo Escolar Victor Meirelles, na Rua Hercílio Luz.

TEXTO: Magru Floriano. Itajaipedia.

FONTES:

1 – GHISLANDI, Emerson Pedro. Personagens folclóricos animam o cotidiano. IN: Anuário de Itajaí 2016. Itajaí: FGML, 2016. Páginas 84-87.

2 – ALÉCIO, Fernando. Centenário do Estádio Dr. Hercílio Luz – 1921 – 2021. IN: Anuário de Itajaí 2021. Itajaí: FGML, 2021. Páginas 102 – 111.

3 – LINHARES, Juventino. O que a memória guardou. Itajaí: Univali, 1997.

4 – FLORIANO, Magru. Judith – a louca de amor – romantismo tardio em Itajahy. IN: Anuário de Itajaí 2021. Itajaí: FGML, 2021.

5 – TEIXEIRA, Kika. Disponível em: www.Itajaí de antigamente. Acesso em: 27 de julho de 2024.

 

 

 

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